vacilo

o padre falou que era muito vacilo, já que viemos aqui pra viver...
escutei, até ri, porque ele disse que era vacilo algo que não se devia fazer, nunca.
como saber que viemos aqui pra viver, talvez seja vacilo viver...
de repente estamos aqui... e nascer seja só um morrer entre tantos morreres na vida.
ou esses dois verbos estejam intimamente conjugados que só vindo ao mundo pra saber o que é morrer. não tem essa de que a vida é todo um espaço tempo antes de morrer.
na verdade, se não escutasse tantas historias por aí estaria só vivendo o que não se vive...
eu vivo a partir dessas historias e de repente todas elas escapam e me abandonam e não posso
mais saber se têm um fim. Porque sempre aludimos a um fim. E o problema talvez seja esse indefinido medo do fim. Ou um avesso, um travesseiro mal dobrado, com cheiro de outro, com cheiro de suor, um lençol que não estende até os pés. Os pés ventilam, eu sinto a brisa, sinto estou viva. Mas faz um calor danado e não percebo o resto do corpo. Uma parte do corpo morre enquanto meus pés fazem todo o trabalho de dar vida e de não me fazer esquecer do bendito padre que parecia bem cheiroso e sempre de banho bem tomado. Só posso atrasar um pouco as mortes em janeiro quando tomo cinco banhos ao menos. Ó morte seja bem-vinda, me faz lembrar que antes de dormir posso escrever, sentir saudades e até me esquecer e me esquecer. Não sei que história quero contar, não importa. Me lembro do inverno e esse frio já passou, não existe, morreu. Torpe, era o que queria dizer sobre toda essa história. Uma história entorpecente que deixou a todos vacilantes.  Então vacilar acaba sendo bom no meio dessa festa podre que armaram pra me convencer. Afinal, te trairei sim. Quem sabe assim, tenho mais tempo pra morrer mais antes de chegar o fim.

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